MEU CHEFE É UM TIRANO
RECURSOS DESUMANOS
Meu chefe é um tirano
Você se acha maltratado? Reconsidere. Há gente que já teve de trabalhar de pé em porão, subir escadas de muletas ou ceder o computador aos filhos do patrão
MARIA LAURA NEVES
Quase todo mundo já reclamou do chefe na vida. Talvez até com fortes motivos. Mas é bom colocar seus problemas em perspectiva antes de sair por aí apregoando que seu chefe é um monstro. Pequenos conflitos e desencontros são inevitáveis em qualquer ambiente em que haja relações de poder e no qual as pessoas tenham de conviver por muito tempo. Chefes cruéis como a personagem de Meryl Streep em O Diabo Veste Prada são outra coisa. ÉPOCA levantou casos de empregados que disseram ter vivido o inferno nas mãos de ex-chefes.
SUBIR NA EMPRESA É ISSO?
O bancário Dario Carneiro tem paralisia na perna esquerda e precisa do auxílio de uma muleta para andar. Durante 18 anos trabalhou no mesmo banco e nunca teve problemas com a deficiência. Em 2000, foi transferido. Ficou sob o comando de uma nova gerente. Começou a viver um pesadelo.
O bancário Dario Carneiro tem paralisia na perna esquerda e precisa do auxílio de uma muleta para andar. Durante 18 anos trabalhou no mesmo banco e nunca teve problemas com a deficiência. Em 2000, foi transferido. Ficou sob o comando de uma nova gerente. Começou a viver um pesadelo.
A gerente, segundo Carneiro, disse sem rodeios que ele não tinha boa aparência para trabalhar no atendimento aos clientes. Com essa justificativa, transferiu-o para o 2º andar da agência, em um local acessível somente a funcionários. Até então ele era caixa. "Comecei a fazer trabalhos abaixo da minha função e fiquei isolado dos outros funcionários", diz Carneiro.
A agência não tinha elevador. Carneiro tinha de subir as escadas apoiando-se em sua muleta. Segundo ele, até mesmo chegar ao trabalho representava uma dificuldade física. "Ela me fazia entrar na agência pela porta com detector de metais, que travava por causa da muleta", afirma. Em 2004, Carneiro estava descendo a escada da agência de muleta, como todos os dias, e caiu. Machucou os joelhos e cotovelos. Depois disso, abriu um inquérito policial contra a chefe e mais tarde entrou com um processo de danos morais contra o banco. O caso ainda não foi julgado.
Depois de quase cinco anos sob o comando dessa gerente, ele procurou tratamento psicológico no Hospital das Clínicas. O diagnóstico foi de estresse grave e depressão.
A secretária Alessandra Pinheiro diz que seu chefe mandou-a desmarcar o casamento |
CASAMENTO? ADIA!
Boas secretárias são discretas e leais aos chefes. A secretária-executiva Alessandra Pinheiro diz que seguiu a norma à risca enquanto pôde. Ela assessorava o presidente de uma empresa de diagnósticos em São Paulo quando começou a ser escalada por ele para cumprir tarefas que nada tinham a ver com sua função. "Ele me mandou comprar a coleção completa da revista Playboy", diz. Ela afirma que demorou um ano para concluir a missão. "Tive de percorrer sebos e lojas especializadas nos fins de semana. E me lembro de voltar imunda para casa de tanto mexer em revistas velhas. Há números que são raridades", diz.
Boas secretárias são discretas e leais aos chefes. A secretária-executiva Alessandra Pinheiro diz que seguiu a norma à risca enquanto pôde. Ela assessorava o presidente de uma empresa de diagnósticos em São Paulo quando começou a ser escalada por ele para cumprir tarefas que nada tinham a ver com sua função. "Ele me mandou comprar a coleção completa da revista Playboy", diz. Ela afirma que demorou um ano para concluir a missão. "Tive de percorrer sebos e lojas especializadas nos fins de semana. E me lembro de voltar imunda para casa de tanto mexer em revistas velhas. Há números que são raridades", diz.
O chefe, segundo ela, foi ocupando todos os espaços de sua vida pessoal. Por ordem dele, a secretária chegou a desmarcar o próprio casamento. "Eu pedi uma semana de folga com meses de antecedência. Quando faltavam alguns dias para o casamento, ele foi viajar e me pediu para continuar trabalhando." Segundo Alessandra, ele disse que o escritório não podia ficar vazio. O casamento foi adiado, e durou apenas quatro anos. "Eu não tinha vida, nem horário. Chegava para trabalhar às 8 da manhã e ia embora às 10 da noite. Tinha crises de labirintite, que hoje não tenho mais."
Separada, ela conheceu seu segundo marido no ambiente em que passava a maior parte do tempo, a própria empresa. "O cúmulo foi o dia em que ele me proibiu de almoçar com meu marido", diz. A partir daí, ela começou a impor limites e dizer não às ordens do chefe. "Ele não gostou, entramos num acordo e eu saí."
ELE MANDA Gislaine diz que tinha de parar o trabalho para alimentar o cachorro |
BABÁ DE CACHORRO
A designer Gislaine Rodrigues começou a trabalhar como chefe de operações numa agência de viagens em Salvador em novembro de 2004. Mas suas funções acabaram sendo bem diferentes. Gislaine teve de dar ração e água ao cachorro da chefe, que perambulava no escritório entre os funcionários. "Ela dizia que o cachorro era a mascote da equipe e tratava-o melhor que aos funcionários." Além do cachorro, os dois filhos da patroa também tinham preferência, segundo ela. "Quando eles chegavam ao escritório e queriam usar o computador, tínhamos de parar de trabalhar e ceder o espaço a eles." Um dia, a dona sugeriu que a equipe fizesse um rodízio para varrer o chão do escritório e lavar a privada do banheiro. Dessa vez deu errado, segundo Gislaine. Ninguém topou.
A designer Gislaine Rodrigues começou a trabalhar como chefe de operações numa agência de viagens em Salvador em novembro de 2004. Mas suas funções acabaram sendo bem diferentes. Gislaine teve de dar ração e água ao cachorro da chefe, que perambulava no escritório entre os funcionários. "Ela dizia que o cachorro era a mascote da equipe e tratava-o melhor que aos funcionários." Além do cachorro, os dois filhos da patroa também tinham preferência, segundo ela. "Quando eles chegavam ao escritório e queriam usar o computador, tínhamos de parar de trabalhar e ceder o espaço a eles." Um dia, a dona sugeriu que a equipe fizesse um rodízio para varrer o chão do escritório e lavar a privada do banheiro. Dessa vez deu errado, segundo Gislaine. Ninguém topou.
Os funcionários podiam não ter prestígio, mas, de acordo com ela, eram muito requisitados. Gislaine diz que a chefe dava um celular a eles e chamava-os a qualquer hora, nas madrugadas e nos fins de semana. Ela reclama ainda da remuneração. Diz que todos os outros funcionários recebiam comissão, menos ela. Gislaine sugere que pode ter sido preconceito. "Eu era a única negra no escritório."
GATA BORRALHEIRA
Quando o banco em que Cilene Barbosa da Silva trabalhava foi comprado por um concorrente, sua vida mudou. Ela foi transferida de agência e recebeu ordens do gerente para trabalhar no porão, onde ficavam arquivados documentos antigos. Sua tarefa consistia em arrumar os arquivos, mas ela não recebeu mesa nem cadeira para trabalhar. Não havia janelas no porão. Nem a equipe de limpeza da agência entrava lá.
Quando o banco em que Cilene Barbosa da Silva trabalhava foi comprado por um concorrente, sua vida mudou. Ela foi transferida de agência e recebeu ordens do gerente para trabalhar no porão, onde ficavam arquivados documentos antigos. Sua tarefa consistia em arrumar os arquivos, mas ela não recebeu mesa nem cadeira para trabalhar. Não havia janelas no porão. Nem a equipe de limpeza da agência entrava lá.
Cilene sentava nas caixas ou no chão. Muitas vezes, passava o dia chorando. Seu chefe a proibiu de sair do porão para almoçar nos horários em que a agência tinha muito movimento e, segundo ela, deu-lhe os apelidos de Ratazana, Gata Borralheira e Cinderela. Como no porão não havia relógio, Cilene perdia a noção do tempo e só ia embora quando um funcionário ia avisá-la da hora. O isolamento durou cerca de um ano, segundo consta do processo que Cilene moveu contra o banco. A sentença diz que ela tem de receber R$ 60 mil como indenização.
A VIDA IMITA A ARTE No cinema, Meryl Streep fez sucesso em O Diabo Veste Prada, no papel da editora-chefe de uma revista de moda que aterrorizava sua equipe |
Fonte : http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG75027-6012,00-MEU+CHEFE+E+UM+TIRANO.html
As 56 Atitudes Infalíveis para dar a volta por cima com o seu chefe | |||||
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